Queimando o filme




QUEIMANDO O FILME

Hollywood já pisou muito na bola na hora de respeitar algumas leis básicas da física e da lógica. Nesta sessão, que começa agora, você vai assistir a oito erros científicos que fariam gênios como Einstein e Stephen Hawking rolar de rir no cinema:

Por Mariana Iwakura

O espaço com som dolby surround

Filme Star Wars - Uma Nova Esperança (1977)

Cena "esquecivel"

1h46

O herói Luke Skywalker entra em seu caça espacial e parte para a batalha final do filme. Dezenas de naves, de vilões e mocinhos, cruzam a tela em ritmo frenético, abusando dos decibéis ao produzir um barulho ensurdecedor em pleno espaço sideral.

A pisada na bola

O som nada mais é que a propagação de ondas que fazem vibrar as moléculas do meio que elas atravessam - o ar ou água, por exemplo. O problema é que no espaço há apenas vácuo, ou seja, não há nenhum meio para as ondas vibrarem e propagarem o som. Só faria sentido ouvir espaçonaves barulhentas circulando dentro de planetas que têm atmosfera - como a Terra ou então Marte.

Outros filmes

A "sonzera" espacial é uma grande bola fora que aparece não só em todos os episódios da saga Star Wars, como também na maioria dos filmes de ficção científica. Duas boas exceções são 2001 - Uma Odisséia no Espaço (1968) e Impacto Profundo (1998), em que naves e corpos celestes são mostrados vagando pelo espaço sem barulho algum, respeitando o princípio da propagação do som.

Um ácido realmente de outro mundo

Filme - Alien, o Oitavo Passageiro (1979)

Cena "esquecivel"

40 minutos

O assustador monstrengo espacial Alien é ferido e começa a "sangrar" ácido. A substância cai no chão de uma espaçonave e imediatamente começa a corroer várias placas de metal até atravessar, em poucos segundos, três andares da nave.

A pisada na bola

Uma liga metálica usada em qualquer espaçonave desse ou de outro planeta jamais seria corroída com tal rapidez, não importando o tipo de ácido. Reações violentas como as mostradas em Alien só ocorrem entre ácidos como o clorídrico e metais como o magnésio ou o sódio. O problema é que esses dois metais nunca seriam utilizados em grande quantidade na estrutura de uma nave. E, vá lá, mesmo que isso acontecesse, umas poucas gotas de ácido não seriam suficientes para detonar uma massa tão grande de metal.

Outros filmes

O mesmo erro é repetido em Batman (1989). Numa das cenas, o vilão Coringa usa uma flor na lapela para lançar um ácido que corrói dois imensos parafusos e faz um sino despencar. O raciocínio é igual: um ataque corrosivo nunca seria tão intenso e a quantidade de ácido teria de ser maior para detonar os parafusos.

Milagre: Combustão sem oxigênio

Filme - Star Wars - O Império Contra-Ataca (1980)

Cena "esquecivel"

57 minutos

A nave do vilão Darth Vader se desloca em um perigoso campo de asteróides, ziguezagueando entre eles. Quando um asteróide vem na direção da nave, ela solta um disparo de laser que explode o corpo celeste e cria uma grande bola de fogo.

A pisada na bola

Nem mesmo os superpoderes da "Força" criariam uma explosão assim... Uma combustão é a transformação química entre um combustível (gasolina, carvão, álcool...) e um oxidante (normalmente, o oxigênio, presente na atmosfera terrestre). O resultado da combustão é a liberação de luz e calor - fogo. Ainda que o tal asteróide tivesse componentes combustíveis, no espaço não há oxigênio para completar a reação. Sem ele, nada de bola de fogo.

Outros filmes

Melhor papel novamente quem fez foi o diretor Stanley Kubrick, do filme 2001 - Uma Odisséia no Espaço. Esse clássico da ficção científica mostra uma explosão no espaço que rola sem chamas e sem som.

Prédios à prova de catástrofe

Filme - O Dia Depois de Amanhã (2003)

Cena "esquecível"

49 minutos

O caos se instala em Nova York por causa de desequilíbrios ambientais. A cidade primeiro é atingida por ondas gigantes e depois fica completamente congelada. No entanto, todos os seus arranha-céus e a Estátua da Liberdade permanecem de pé.

A pisada na bola

A energia de uma onda gigante deveria destruir vários prédios de Nova York, que derrubariam seus vizinhos num "efeito dominó". Além disso, a Estátua da Liberdade não é sólida, é só uma estrutura de metal revestida por uma camada de cobre de alguns milímetros de espessura. Com toda a pressão da água, ela deveria amassar como uma lata de cerveja.

Outros filmes

Na categoria catástrofes-com-alguma-lógica, Impacto Profundo (1998) outra vez leva a melhor. No filme, um cometa cai na Terra e também provoca ondas gigantes. Mas, quando estas atingem a mesma Nova York, a Estátua da Liberdade e vários prédios são detonados - incluindo as torres gêmeas do WTC, que ainda existiam na época.

Ataque bombástico a fisica!

Filme - Pearl Harbor (2001)

Cena "esquecível"

1h29

Um enxame de aviões japoneses inicia um ataque à base americana de Pearl Harbor, no Havaí. Um piloto sobrevoa os navios inimigos e solta uma bomba. Ela vira, aponta para baixo, cai na vertical e detona o alvo que está exatamente sob o avião.

A pisada na bola

Esse ataque explode o bom senso. Em primeiro lugar, uma bomba lançada na horizontal só viraria de cabeça pra baixo se essa parte fosse bem mais pesada que o resto do artefato. Outro problema é que a bomba jamais cairia reto, atingindo um navio exatamente abaixo do avião. Na queda livre, ela faria uma parábola (curva), pois, além da ação da gravidade, puxando-a para baixo, a bomba ainda teria uma aceleração para a frente, provocada pela velocidade do avião que a carregava. Na base do "olhômetro", o piloto só atingiria o alvo se soltasse a bomba um pouco antes de sobrevoar o navio.

Outros filmes

No próprio Pearl Harbor, minutos antes da cena citada, rola um lançamento de bomba mostrado do jeito certo.

Quando manter a lógica é fogo

Filme - Indiana Jones e a Última Cruzada (1989)

Cena "esquecível"

32 minutos

O herói Indiana Jones foge por uma catacumba cheia de petróleo. Ele usa o líquido para acender uma tocha feita com restos de ossos e panos. Enquanto caminha, pedaços da tocha, pegando fogo, caem sobre o petróleo e nada acontece.

A pisada na bola

Afinal, o petróleo é inflamável ou não?! Poucos minutos depois, na mesma seqüência, um vilão acende um fósforo e o joga no petróleo da catacumba, que, aí, sim, pega fogo de novo. Na vida real, em todas as situações deveria surgir um baita fogaréu. Primeiro, porque o petróleo é combustível; segundo porque, se os personagens não sufocam na catacumba, lá existe o oxigênio necessário para uma combustão.

Outros filmes

Por outro lado, muitos filmes mostram colisões de carros que causam explosões imediatas, o que é bem difícil de acontecer. Para queimar, o vapor da gasolina precisa estar misturado ao ar em proporções exatas, condição rara numa colisão.

Visão muito além do raio X

Filme - Doze Homens e Outro Segredo (2004)

Cena "esquecível"

1h05

Um grupo de ladrões quer roubar a jóia valiosa de um museu. Para proteger o objeto, há um sistema de segurança com dezenas de lasers em movimento que detectam qualquer pessoa que tente se aproximar. Na cena, os raios "dançam" pelo cômodo.

A pisada na bola

O laser utilizado em sistemas de segurança é uma luz de comprimento de onda definido, direcionada de um emissor para um receptor. É uma viagem mostrar feixes de laser vagando de um lado para outro, sem um receptor fixo. Além disso, os raios não são visíveis. Como qualquer luz, para que o laser seja visto, ele precisa bater em um anteparo e chegar aos nossos olhos. Se não há fumaça ou poeira, não há anteparo para o feixe - e o laser não pode ser visto.

Outros filmes

Quem manda bem ao lidar com laser é o longa Armadilha (1999). Nele, a personagem de Catherine Zeta-Jones precisa passar por uma sala cheia de detectores a laser. Antes, ela treina com fios colocados na exata localização dos feixes, para saber como desviar deles quando não puder vê-los.

Um legítimo predador da ciência.

Filme - Parque dos Dinossauros (1993)

Cena "esquecível"

1h20

Após uma pane geral num parque, um tiranossauro consegue escapar da jaula. Para desespero dos primeiros visitantes da atração, ele é um terrível caçador, que come metade de um homem e corre atrás de um jipe em busca de novas vítimas!

A pisada na bola

Apesar de ter sido um carnívoro assustador, o tiranossauro tinha um esqueleto muito pesado e vísceras volumosas. Assim, ele era um dinossauro forte, mas pouco ágil. Por isso, provavelmente, não tinha muita capacidade predatória. Sua anatomia sugere um animal lento, que talvez conseguisse a maior parte dos alimentos roubando a caça de outros predadores ou então se alimentando de carcaças abandonadas.

Outros filmes

Em toda a trilogia Jurassic Park, criada pelo diretor Steven Spielberg, os tiranossauros são apresentados como exímios e ágeis caçadores, um mito, aliás, que nunca foi questionado nas produções de Hollywood.

Fonte: Mundo Estranho

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